A prefeitura de Recife/PE, por meio da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), reuniu especialistas da gestão pública, organizações não governamentais, sociedade civil e universidades para debater sobre estratégias para tornar as ruas mais seguras.
O Painel Internacional de Ruas Seguras foi realizado em parceria com a Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global (BIGRS), por meio da GDCI, organização que atua em diversos países adequando os desenhos viários para trazer mais segurança e conforto às pessoas. A ocasião também foi palco para o lançamento do Guia Desenhando Ruas para Crianças na versão impressa em português.
O evento contou com Francisco Cunha, da TGI consultoria e defensor da mobilidade a pé no Recife; Clarissa Duarte, professora do curso de arquitetura e urbanismo na Unicap; Leonardo Meira, professor do curso de arquitetura e urbanismo da UFPE; Antônio Henrique, gerente geral de mobilidade humana do Recife; Taciana Ferreira, presidente da CTTU; e Jorge Vieira, secretário de política urbana e licenciamento; além de Skye Duncan, diretora executiva da GDCI. As palestras trouxeram dados sobre as mudanças das vias no Recife, sugestões e inspirações sobre como o Recife pode tornar as suas ruas mais seguras.
As ruas representam a maior parte dos espaços públicos na maioria das cidades e, por isso, são um recurso vasto e ainda pouco explorado para enfrentar as múltiplas crises que enfrentamos — desde as mudanças climáticas e a saúde pública até a vitalidade econômica e a equidade social. O desenho de uma rua impacta diretamente se famílias têm opções de mobilidade seguras, acesso a serviços e oportunidades essenciais, além de espaços saudáveis para que as crianças possam brincar, aprender e crescer.
O evento foi uma oportunidade para o lançamento do guia Desenhando Ruas Para Crianças, que foi impresso em português pela primeira vez. O documento traz as melhores práticas, estratégias, programas e políticas internacionais que cidades ao redor do mundo utilizaram para desenhar espaços que possibilitam às crianças de todas as idades a habilidade de utilizar as ruas. O guia inclui recomendações de desenho e estudos de caso que destacam ruas que são seguras, agradáveis e inspiradoras para crianças e cuidadores.
“Estamos felizes em anunciar o lançamento do premiado guia Desenhando Ruas para Crianças em Português, tornando este recurso inestimável acessível a milhões de profissionais em sua língua nativa. O momento deste lançamento é particularmente significativo em Recife, uma cidade que já demonstrou, por meio de vontade política, múltiplos projetos implementados e políticas atualizadas, o impacto transformador do desenho de ruas com crianças no primeiro plano. Estamos ansiosos para ver este trabalho se expandir por todo o Recife e para outras cidades do Brasil, garantindo que mais crianças não apenas sobrevivam, mas prosperem em suas ruas locais”, disse Skye Duncan, Diretora Executiva da GDCI.
O redesenho urbano tem salvado vidas no Recife. Em pesquisa realizada pela Universidade Federal do Ceará e Vital Strategies, organização de saúde pública, foi comprovado que as áreas redesenhadas na capital pernambucana tiveram até 37% menos sinistros de trânsito com vítimas. Além da observação dos dados de sinistros de trânsito nesta pesquisa, a CTTU também faz análises contínuas sobre o comportamento dos condutores no Recife para reduzir os sinistros de trânsito a partir dos seus fatores de risco. Em pesquisas observacionais feitas na cidade, destaca-se que 35% dos usuários de motocicletas transitam acima dos limites de velocidade. Já entre os veículos leves (carros comuns), 21% dos usuários excedem os limites de velocidade. A partir dessas informações, a CTTU realiza intervenções.
Em projetos como o de Jardim Monte Verde, no Ibura, houve uma redução de 50% dos veículos excedendo a velocidade de 30km/h na ladeira. Antes: 47% dos veículos trafegavam acima de 30km/h. Depois, 23,4%. Antes da intervenção, 92,7% das pessoas estavam se locomovendo pelo leito viário. Depois houve uma redução de 98% e não foram observadas mais crianças andando na via. Já na Rua Othon Paraíso, no bairro do Torreão, 79,6% dos veículos excediam a velocidade de 30 km/h antes do projeto. Depois, esse número caiu para 22,3%, decréscimo de 72%o. Sendo assim, as equipes de gestão de dados identificam as informações de sinistros e os fatores de risco para diminuir.
Ao todo, já são 50 áreas de urbanismo tático desenvolvidas no Recife, muitas delas já se tornaram permanentes, como é o caso do Rosarinho, da Rua do Hospício, da Avenida Conde da Boa Vista e da Avenida Governador Agamenon Magalhães. Os números demonstram não apenas a redução de sinistros, mas também a redução de fatores de risco, como os de pessoas andando no leito viário. No Largo Dom Luiz, na Zona Norte do Recife, 43% dos pedestres andavam no leito viário antes da intervenção, depois, esse número reduziu para 0,6%. Além disso, a distância entre as travessias diminuiu 60%. Antes, os pedestres precisavam andar 26 metros; agora, apenas 11 metros. Já na Rua da Palma, na área central, houve uma redução de 75% dos pedestres caminhando no leito viário. Agora, não há mais crianças sendo carregadas ou andando no leito viário. Antes, 9,6% das crianças andavam ou eram carregadas no leito viário.