Uma mudança silenciosa, mas profunda, está em curso no transporte público do país. O novo Anuário 2024-2025 da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), lançado nesta terça-feira (12), revela que cada vez mais cidades estão revendo a forma de financiar o serviço de ônibus, substituindo a dependência exclusiva da tarifa paga pelo passageiro por subsídios públicos e modelos de gratuidade.
Nos últimos cinco anos, o número de municípios que subsidiam o transporte mais que dobrou, passando de 120 para 241. Nas capitais, o avanço foi ainda mais expressivo: de 9 para 20, um crescimento de 122%. Esse movimento se consolidou após a pandemia de covid-19, que reduziu drasticamente a demanda e escancarou a fragilidade do modelo baseado apenas na cobrança de passagens.
Outro dado de destaque é a tarifa zero. O levantamento mostra que já são 154 as cidades que oferecem gratuidade no transporte coletivo, sendo que em 127 delas o passe livre é pleno e universal — válido para todos os usuários, todos os dias da semana. Essa política tem se mostrado um instrumento de inclusão social e de estímulo à economia local, além de reduzir o uso do transporte individual.
Apesar dos avanços, o anuário aponta que outros indicadores permanecem praticamente estagnados. A idade média da frota nacional continua em 6 anos e 5 meses, e desde 2023 os investimentos em infraestrutura de mobilidade urbana perderam ritmo. Houve desaceleração na implantação de faixas exclusivas e corredores de BRT, o que, segundo a NTU, compromete a eficiência do sistema, aumenta o tempo de viagem e reduz o conforto para o passageiro.
O estudo conclui que o transporte coletivo brasileiro vive um período de transição. A ampliação de subsídios e a adoção da tarifa zero indicam uma mudança estrutural na forma de custeio, mas a ausência de investimentos em infraestrutura e renovação de frota ainda impõe desafios para a qualidade do serviço.