Mais da metade da frota de ônibus da Grande Recife está fora da vida útil, aponta levantamento

A frota de ônibus da Região Metropolitana do Recife nunca esteve tão envelhecida e sem perspectiva de renovação. Um levantamento realizado pelo jornal JC com base em dados oficiais de abril de 2025 mostra que mais de 50% dos quase 2 mil veículos em circulação na região já ultrapassaram a vida útil recomendada para o transporte público.

O que aconteceu?

  • A frota ativa das empresas permissionárias caiu de 1.826 ônibus em janeiro de 2023 para 1.689 em abril de 2025
  • Mais da metade (51,3%) desses ônibus já ultrapassou os sete anos de uso
  • A idade média da frota subiu de 5,37 anos em 2023 para 5,59 anos em 2025
  • O número de ônibus fora da vida útil cresceu de 568 para 868 no período

Empresas mais afetadas

  • Borborema: de 136 para 186 veículos fora da vida útil
  • Caxangá: de 105 para 234
  • Empresa Metropolitana: de 104 para 241
  • Globo: de 27 para 62

Apesar de algumas empresas terem ampliado suas frotas, como a Borborema e a São Judas Tadeu, a tendência geral é de redução na quantidade total de veículos e envelhecimento acelerado. O problema atinge especialmente as empresas permissionárias, que representam mais de 75% da operação do sistema metropolitano e que seguem operando sem contrato formal com o governo estadual.

O que diz o panorama nacional?

O cenário do Grande Recife reflete uma crise mais ampla no transporte público brasileiro. Segundo o Anuário 2023/2024 da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), o Brasil vive o pior momento de sua frota em 27 anos. A idade média nacional dos ônibus urbanos chegou a seis anos e cinco meses — a mais alta desde 2012. Em algumas cidades, há veículos com até 12 anos de uso operando normalmente, com aval das gestões locais.

A falta de um modelo sustentável de financiamento do transporte público e a ausência de contratos com garantias de equilíbrio financeiro têm travado investimentos em diversas regiões do País.

Concessionárias têm frotas mais novas

A situação da frota só não é pior na Grande Recife por causa das duas concessionárias do STPP (Sistema de Transporte Público de Passageiros), que seguem obrigadas contratualmente a renovar seus veículos: o consórcio Conorte e a Mobibrasil.

O Conorte — que reúne as empresas Itamaracá, Cidade Alta e Rodotur — já tem 149 ônibus com tecnologia Euro 6 em operação e prevê a entrega de mais 39 veículos de 15 metros com ar-condicionado até o fim de 2025. A tecnologia Euro 6, obrigatória para veículos 0 km, reduz em até 77% a emissão de poluentes em relação à Euro 5.

Já a Mobibrasil investiu na renovação da frota do BRT Leste-Oeste, um dos mais importantes corredores da região metropolitana. Foram 79 novos ônibus comprados em um ano, incluindo 20 veículos articulados para as linhas que ligam Camaragibe ao centro do Recife. A empresa opera com 42 BRTs nas linhas 2450 e 2480 e substituiu quase metade da frota nessa primeira etapa.

Licitação travada

A licitação remanescente do sistema de ônibus da RMR segue sem avanços, o que compromete o planejamento e a renovação de frota das empresas que ainda operam como permissionárias. Procurados pelo JC, o governo de Pernambuco e o Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano não se pronunciaram sobre os dados do levantamento nem sobre os motivos dos constantes adiamentos da licitação.

Com mais da metade dos ônibus em uso acima da vida útil, passageiros da Região Metropolitana do Recife enfrentam diariamente veículos quentes, barulhentos e com falhas mecânicas. Enquanto as concessões não avançam, o transporte coletivo segue deteriorando e afastando ainda mais a população.