A Marcopolo, fabricante gaúcha de ônibus, registrou a maior margem de lucro bruto de sua história, atingindo 26,7% no último trimestre. Este percentual significa que a cada R$ 100 vendidos, R$ 26,70 se tornam lucro, após a cobertura dos custos diretos de produção.
O resultado surpreendente ocorre mesmo com o mercado brasileiro de transporte coletivo estagnado há mais de dez anos. A fabricante também viu seu Retorno sobre o Capital Investido (ROIC) — uma medida de quanto a empresa lucra sobre o dinheiro que aplica na operação, como em fábricas e melhorias — saltar de 16,6% para 23,3% no último ano.
A Fórmula do Lucro: Verticalização e Foco Global
O bom desempenho não veio do mercado interno, que segue travado, mas de uma adaptação estratégica a um ambiente hostil:
- Internacionalização: Sem crédito acessível e com baixo volume de pedidos públicos no Brasil, a Marcopolo se voltou ao exterior. Hoje, as exportações e as operações internacionais representam cerca de 50% da receita total da empresa, com atuação em mais de 140 países.
- Controle da Produção: A empresa apostou na verticalização, ou seja, passou a fabricar internamente uma parte maior dos componentes, como estruturas metálicas e peças plásticas. Isso permite ter mais controle sobre a produção, mantendo a competitividade e a eficiência, mesmo em mercados menores.
O Freio do Mercado Brasileiro
Apesar do sucesso global da Marcopolo, o transporte coletivo no Brasil enfrenta um ciclo vicioso de desinvestimento:
- Frota Envelhecida: A idade média dos ônibus no país aumentou de oito anos em 2012 para 11,4 anos em 2024, um sinal de que a renovação não ocorre nos volumes necessários.
- Juros Altos: Para o segmento rodoviário, as linhas de crédito, como Finame e BNDES, operam com juros elevados, o que desincentiva os operadores a renovar suas frotas.
- Tarifas Congeladas: A estagnação nos preços das passagens urbanas gera desequilíbrio financeiro para as concessionárias, que cortam investimentos e adiam a compra de novos veículos.
Eletrificação Lenta e Cautela do Mercado
A transição para os ônibus elétricos, vista como o futuro do setor, também está mais lenta do que o esperado. O alto custo de um veículo elétrico (cerca de três vezes o preço de um a diesel) e a falta de infraestrutura de recarga suficiente nas cidades são os principais obstáculos.
Embora a Marcopolo tenha apresentado resultados financeiros sólidos, com dívida muito baixa e forte lucro operacional, a reação do mercado foi de cautela. Analistas do BTG Pactual, por exemplo, demonstraram preocupação com o esgotamento do ciclo de crescimento atual e mudaram a recomendação de compra das ações para “neutra”.
(Com informações do InvestNews)



