A substituição de ônibus convencionais por articulados nem sempre resulta em melhoria para o passageiro. Entenda por que isso acontece e como funciona o cálculo da oferta de lugares no transporte coletivo urbano.
O que aconteceu?
- Em muitas cidades, empresas substituem ônibus convencionais por articulados alegando ganho de capacidade.
- Apesar do aumento no número de lugares por viagem, a troca pode reduzir a frequência dos ônibus.
- Com intervalos maiores, o tempo de espera cresce e a lotação pode se agravar, mesmo com veículos maiores.
Como funciona a oferta de lugares no transporte público
A oferta de lugares é a medida que relaciona a capacidade dos veículos à frequência com que operam. Ou seja, não basta saber quantos passageiros cabem dentro de um ônibus: é preciso considerar quantos ônibus passam por determinado ponto em determinado período de tempo.
A fórmula básica que as empresas e os órgãos gestores usam leva em conta três fatores:
- Capacidade do veículo (quantos passageiros ele comporta em média)
- Quantidade de viagens (quantos ônibus circulam por hora ou por dia)
- Duração do trajeto (tempo necessário para cada viagem completa)
Esse cálculo define a oferta total do sistema. Por exemplo: dois ônibus convencionais com 80 lugares cada, fazendo 10 viagens por dia, ofertam 1.600 lugares. Se forem substituídos por um ônibus articulado com 120 lugares, mas que faz só 6 viagens, a oferta cai para 720 lugares.
Por que a substituição pode ser ruim para o passageiro
Apesar do articulado ter mais espaço interno, o número de viagens pode diminuir. Isso ocorre porque veículos maiores são mais difíceis de manobrar, demandam mais tempo nos pontos de parada, enfrentam mais dificuldade em vias estreitas e têm operação mais cara.
Na prática, o passageiro sente:
- Maior tempo de espera no ponto
- Ônibus mais cheios em horários de pico
- Menor regularidade nos intervalos
- Maior risco de superlotação, especialmente se o veículo quebra
Além disso, em linhas com baixa ou média demanda, a troca de frota pode não se justificar — e resultar em perda de qualidade no atendimento, ainda que o veículo seja mais moderno.
O que dizem os especialistas
A recomendação técnica é que ônibus articulados sejam usados em corredores exclusivos e linhas de alta demanda, onde o maior número de passageiros por viagem justifica a troca. Já em linhas de bairro, com alta rotatividade de passageiros e trânsito mais complicado, os ônibus convencionais podem ser mais eficientes, mesmo com menor capacidade.
Impacto para o planejamento urbano
A escolha do tipo de veículo não deve ser baseada apenas no tamanho do ônibus, mas sim em uma análise completa de origem-destino dos passageiros, nível de demanda por horário e estrutura viária da cidade. Um sistema equilibrado precisa combinar diferentes tipos de veículos para atender bem toda a população.
A troca de um ônibus convencional por um articulado não é garantia de melhoria no serviço. Em muitos casos, pode reduzir a oferta total de lugares e prejudicar a experiência do passageiro. Para o transporte público ser eficiente, é fundamental que as decisões sejam baseadas em dados técnicos, com foco na frequência, conforto e regularidade das viagens — e não apenas no tamanho dos veículos.