São Paulo, com mais de 9 milhões de veículos registrados, enfrenta um dos trânsitos mais intensos do mundo. Apesar de iniciativas como o rodízio de veículos e investimentos no transporte público, a cidade continua paralisada nos horários de pico, prejudicando a mobilidade dos paulistanos.
Cláudio Barbieri da Cunha, professor da Escola Politécnica da USP e engenheiro de transportes, explica que o problema vai além da quantidade de carros nas ruas. Segundo ele, não é necessário ser especialista para perceber que a infraestrutura está sobrecarregada, especialmente nos horários de pico. No entanto, ele acredita que isso não significa que a infraestrutura esteja mal planejada. Barbieri aponta que, no Brasil, em qualquer cidade, a infraestrutura nunca consegue atender completamente à demanda, pois, mesmo com ampliação das vias, a necessidade de viagens cresce de forma proporcional, gerando congestionamentos contínuos.
A preferência pelo carro: desafio para o transporte público
A preferência pelo carro em relação ao transporte público também é um fator crucial para os problemas de mobilidade. De acordo com Barbieri, a percepção de conforto e eficiência no uso do carro é um obstáculo para o transporte coletivo. O transporte individual oferece a conveniência de “porta a porta”, enquanto o transporte público exige que o usuário se desloque até um ponto de embarque, além de muitas vezes ser necessário fazer transferências de linhas. No entanto, quando o transporte público é mais rápido que o carro, ele é mais utilizado, o que destaca a importância de melhorar a eficiência e a infraestrutura do sistema.
Rodízio de veículos: uma medida limitada
O rodízio de veículos, implementado em 1997 com o objetivo de reduzir a poluição no inverno, logo se tornou uma medida permanente de controle do trânsito. No entanto, seu impacto já não é o mesmo de antes. De acordo com Barbieri, o rodízio tem se mostrado uma solução paliativa. No início, a medida teve algum efeito, mas atualmente o impacto é mínimo. Com a flexibilidade de escolha das placas, as pessoas podem simplesmente ficar em casa em determinados dias. Barbieri também menciona exemplos internacionais, como o México, onde o rodízio acabou incentivando a compra de um segundo carro, agravando o problema.
Propostas para um futuro com menos trânsito
Para resolver os problemas de trânsito em São Paulo, Barbieri sugere uma combinação de melhorias no transporte público e políticas públicas mais ousadas. Uma das propostas é a cobrança pelo uso das vias mais congestionadas, como acontece em cidades como Londres. Essa medida, apesar de polêmica, poderia ser uma solução eficaz para melhorar a mobilidade urbana.
Barbieri reconhece que a cobrança pode gerar debates sobre desigualdade, mas defende que soluções como o rodízio também penalizam os mais pobres. Ele acredita que é necessário ter coragem política para implementar mudanças estruturais e eficientes no sistema de transporte da cidade.